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Então é Natal… O que você fez?

Raimundo nunca gostou de dezembro, essa historia pode “soar” meio amarga, mas tratará da realidade paralela criada em torno do Natal. Raimundo passou por uma experiência ruim aos 12 anos quando morava em Fortaleza, numa casa muito ruim, tipo um “barraco” no estilo Favela”.

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Na noite de Natal, ganhou um tênis de liquidação e era tudo que ele queria. Depois da ceia com frango frito, farofa, arroz com passas e suco, foi dormir, já ansioso pela chegada da manhã e colocar seu tênis novo pra jogar futebol.

Acordou calçou o tênis, olhou pra ele e feliz e foi para rua jogar futebol para testar. Bom, o tênis no primeiro chute já saiu o solado. A alegria esvaziou junto com o tênis. colou solado.. E jogou com ele por um bom tempo. Mas daquele dia, ficou um ranço natalino.

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Almir Souza, estou contando essa passagem pra ilustrar uma frustração de Raimundo, mas o ranço a que me refiro, veio da percepção da realidade à volta desse garoto. Tinha crianças pobres, como ele, mas tinham famílias mais abastadas, tudo isso na mesma rua. Demorou um pouco colando o solado do tênis, quando conseguiu vedar com sucesso, foi chamar outros garotos pra uma pelada. E lá na rua, veio o que considero a origem da aversão do Raimundo ao Natal. A desigualdade.

Todas as crianças saiam pra rua com seus presentes natalinos. Enquanto uns, mostravam brinquedos modestos, como bolas, outros exibiam bicicletas, relógios e eletrônicos de última geração. Enquanto a ceia de uns era um jantar comum mais elaborado, outras casas esbanjavam comida e fartura. Digamos que a ideia de consciência de classe tenha se formado ali, naquela manhã, aos 12 anos.

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Desde então, nunca mais este garoto viu o Natal com os mesmos olhos. Entendeu que toda aquela bondade localizada, na verdade, escondia culpa. E aqui não culpo ninguém por ser rico ou pobre. A culpa a que me refiro é subjetiva e tem muito a ver com a religião. A culpa sobre agir com bondade e fraternidade apenas neste período, sempre tendo como pano de fundo o nascimento de Jesus.

O verdadeiro sentido do Natal. Não o Natal importado dos americanos com suas luzes, renas e papai Noel. Aliás, explica parte da aversão, o consumismo como padrão, como objetivo. E nesse embate da dualidade humana, abre-se o fosso das desigualdades. A televisão diz pra comprar, a religião pra doar e a sociedade finge se importar, tudo isso ao mesmo tempo no mês de dezembro.

Filantropos “brotam do chão”, empresas movem campanhas para arrecadar donativos e garantir um Natal “feliz” para os pobres. Entidades religiosas e sociais vão às ruas levar alimentos e a palavra. Mas qual palavra? A de que Jesus era pobre? Que nasceu em um estábulo? Que foi perseguido pelos ricos e poderosos? Evangelizar quem tá em situação de rua ou moradores da periferia parece uma espécie de “meia culpa” sem a profundidade do porquê da culpa.

Parece aquela penitência clássica, “reze três pai nosso e três ave Maria” e tá tudo certo. Pra mim, nem precisava, porque o deus que eu acredito é um Deus de perdão e amor, nunca de punição. Mas para além desses pontos, outra coisa me incomodava, a gente celebra a vinda de Jesus e quatro meses depois, o matamos novamente. E, durante oito meses, vivemos como se nada nos afetasse. Como se não houvesse nada a fazer em relação aos pobres, a fome, enfim, com a miséria, humana e material.

Temos milhões de pessoas que não têm o que comer. Não tem quentinha que mate essa fome. Temos, hoje, milhões de crianças e jovens em trabalho informal. Não tem palavra que inclua essas pessoas. Temos mães solo, negros e pobres perambulando pelos semáforos, em porta de padarias e supermercados.

Como Raimundo pode acreditar na bondade da pessoa ruim? E as pessoas boas? O que fizeram nessa lacuna temporal. Temos milhões de pessoas que não têm o que comer. Não tem quentinha que mate essa fome. Temos, hoje, milhões de crianças e jovens em trabalho

Não tem palavra que inclua essas pessoas. Temos mães solo, negros e pobres perambulando pelos semáforos, em porta de padarias e supermercados. Tudo isso ampliado a “quinta potência” no mês de dezembro. O Cristo deixou seu maior mandamento, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, mas Ele não disse, faça isso em dezembro, disse faça isso na vida, todos dias e todos os meses.

Então, a partir dessa percepção, dezembro virou o mês da hipocrisia, todo mundo vira algo que não foi o ano inteiro. A desigualdade fica visível pra onde quer que você olhe. Confraternizações e a ceia familiar funcionam como uma espécie de “bomba relógio” acionada por álcool e muito, mas muito, ressentimento reprimido. São histórias reais que Raimundo viveu todo esse em algum momento. Não se trata de generalizar, mas de pontuar essa “preocupação” com o outro e até que ponto ela é real.

O título remete à música que Simone canta muito bem e representa essa dúvida sobre o que fizemos e porquê fizemos. Amor ou culpa? Eu confesso, não fiz muita coisa. Mas não abracei a hipocrisia, isso eu não fiz diz o garoto. Almir.. Meu texto é sobre isso. O amargo não é desse garoto , é da postura da mídia, agentes políticos e a tradicional família bíblica. Os tais “gentes de bem cristã”. Exaltamos Jesus e seus ensinamentos pra depois, novamente, assassinarmos Jesus. Depois passamos oito meses ignorando tudo que nos “sensibilizou” em dezembro até o próximo dezembro.

Natal quer dizer espírito de amor… um tempo quando o amor de Deus e o amor dos seres humanos deveriam prevalecer acima de todo o ódio e amargura… um tempo em que nossos pensamentos, ações e o espírito de nossas vidas manifestam a presença de Deus.

por Almir Souza-Redator Hacker Free Lancer
Fonte Redação Fama
Foto AAS.

Almir Souza

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