Olhar 360

Um novo olhar para a velhice por Almir Souza

Especial para a Revista Fama Amazônica “A morte nos espreita, mas a vida está aqui, no agora, nos convidando ao irrecusável encontro conosco.”Aos 70 anos, envelheci. E escrevo estas linhas não como um observador distante, mas como alguém que sente, na pele e na alma, o peso e a beleza do tempo.

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Vivemos em uma sociedade que ainda insiste em negar a velhice — ou em vê-la como um fim, quando, na verdade, pode ser o auge do sentido da existência.

Envelhecer vai além de um processo biológico. É uma travessia simbólica, social, espiritual. Deixar de sonhar, de desejar, de se encantar com a vida — isso sim é envelhecer. E, por isso, urge um olhar mais empático, humano e esperançoso para os nossos idosos. Um olhar que compreenda, acolha e celebre essa fase com dignidade.

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Almir Souza.. Lembro com carinho de uma conversa com o querido Chico da Silva, cantor e compositor amazonense de alma generosa. Perguntei a ele o que mais desejava depois de tantas conquistas. Sua resposta foi uma só: tempo. O mesmo tempo que hoje vejo correr mais rápido, mas que aprendi a respeitar com profundidade. Afinal, como ele mesmo disse: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”

No corre-corre moderno, parecemos viver como no filme Click, com Adam Sandler — adiantando momentos, fugindo do agora. Mas é no agora que mora a vida. É aqui que estão os afetos que cultivamos, as amizades que construímos, o amor que damos e recebemos.

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Uma sociedade que nega a velhice
Ainda enfrentamos uma cultura que associa o envelhecer à incapacidade. Por muitos anos, a própria Organização Mundial da Saúde tratava a velhice como uma doença. Felizmente, isso mudou. Mas será que essa mudança representa de fato uma nova valorização do idoso — ou apenas o sintoma de uma sociedade que empurra seus velhos ao trabalho forçado, em nome da produtividade?

É impossível ignorar o número crescente de idosos que precisam trabalhar depois dos 65 anos por pura necessidade. Muitos como motoristas de aplicativos, enfrentando condições precárias, quando já deveriam estar sendo cuidados, ou usufruindo da sabedoria acumulada ao longo de décadas.

Sim, há limitações físicas. Mas há também ganhos: sabedoria, liberdade, leveza. Envelhecer deveria ser um direito digno — e não uma batalha silenciosa.

A vontade de viver
A filósofa Simone de Beauvoir disse certa vez que “viver é a vontade de viver”. E essa vontade não pode desaparecer com a passagem do tempo. Mesmo quando o corpo já não responde da mesma forma, mesmo quando o passo se torna mais lento, ainda pode (e deve) haver tesão pela vida. O desejo de viajar, de se apaixonar, de descobrir algo novo. De rir com gosto. De ser com plenitude.

Tenho dito a todos que encontro: seja quem você é, viva o que quiser, desde que não cause mal ao outro. Mas, por favor, não se prive da pulsão de vida que corre em você como um rio chamado tempo.

E, se me perguntarem hoje — Almir Souza, com 70 anos, o que você faz da vida?
Eu respondo com franqueza: Canto. Choro. Sorrio.
Mesmo com a vista escurecendo aos poucos, mantenho o coração aceso.
Meus maiores consolos são meus filhos.
Mas às vezes me pergunto: onde estão todos aqueles que um dia ajudei? Cadê?

Talvez não importe.
Talvez, agora, o que mais importe seja este reencontro comigo mesmo — e com a vida que ainda me visita todas as manhãs, com sua teimosa generosidade.

Velhice é potência, não ausência.
Na Revista Fama Amazônica, escolhemos valorizar todas as fases da vida, principalmente aquelas que a sociedade costuma esquecer.

Veja o que aconteceu recentemente com os idosos.

Aposentados rurais são 67% das vítimas de fraude no INSS Esquema causou prejuízo de R$ 2,87 bilhões para o grupo; outros 33% das fraudes atingiram beneficiários da área urbana…

Eu é que não me sento- No trono de um apartamento, Com a boca escancarada – Cheia de dentes –  Esperando a morte chegar.

A Amazônia é feita de raízes fortes — como os nossos velhos. Que saibamos escutá-los, respeitá-los e cuidar de suas histórias com o mesmo carinho com que cuidamos da floresta.

Este artigo que acabei de escrever, faz parte da série “Vidas que Inspiram”, com textos inéditos e reflexões de autores amazônidas sobre temas universais.

Okay, I’ll see you soon.

por Almir Souza Redator Hacker
Fonte Redação Fama
Foto AAS

Almir Souza

Aqui Amazônia Acontece

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