Fama Amazônica e as Novas Visões do Mundo: Saberes Sociobio e o Futuro da Amazônia

A Fama Amazônica segue sua missão de destacar causas socioambientais da região e dar visibilidade a novas formas de pensar e construir o futuro da Amazônia. Em um cenário de urgência climática, social e econômica, é preciso fortalecer pontes entre os saberes ancestrais, tradicionais e acadêmicos para promover soluções verdadeiramente sustentáveis.
Conexões que Transformam
No coração da floresta, a iniciativa Saberes Sociobio propõe uma ciência inovadora e equitativa, que une experiências empíricas e visões de mundo construídas em territórios vivos. É com essa abordagem que podemos acelerar uma transição socioeconômica justa, que respeita a diversidade cultural e biológica da Amazônia.
As sociobioeconomias amazônicas são mais do que uma alternativa: são uma oportunidade histórica de articular conservação ambiental, desenvolvimento econômico e bem-estar social, especialmente para povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.
A Bioeconomia e os Desafios Atuais
Hoje, enquanto as mudanças climáticas alteram modos de vida no planeta inteiro, sobretudo entre os grupos mais vulneráveis, fica evidente a necessidade de modelos econômicos que valorizem os produtos da floresta. Como afirma Almir Souza, redator e pesquisador da Fama Amazônica:
“Não existe, atualmente, uma economia que realmente valorize os produtos da floresta em escala amazônica ou nacional.”
O impacto econômico global dos produtos e serviços de base biológica deve ultrapassar US$ 4 trilhões por ano nos próximos 10 anos. A grande questão é: como a Amazônia e suas populações estarão inseridas nesses mercados?
Riscos de uma Nova Velha Economia
Infelizmente, modelos predatórios de ocupação ainda persistem e bloqueiam a criação de alternativas baseadas na riqueza da biodiversidade e nos saberes locais. Algumas propostas de bioeconomia têm adotado práticas de mercado convencionais que, na prática, ferem direitos e comprometem o bem-estar das comunidades locais.
A chamada “nova bioeconomia” corre o risco de se tornar apenas mais um rótulo para o greenwashing, especialmente em áreas como os controversos mercados de carbono, onde muitas vezes os direitos das populações tradicionais não são respeitados.
Saberes Ancestrais como Protagonistas
A sociobioeconomia, ou “economia da sociobiodiversidade”, busca valorizar as estratégias econômicas que nascem da relação respeitosa entre povos e natureza. Essa proposta reconhece a importância de visões de mundo diversas, modos de vida próprios, diversidade linguística e organização social tradicional.
A bioeconomia ecológica precisa ser pensada com olhar sistêmico, promovendo:
Produção sustentável sem monoculturas;
Práticas agrícolas que respeitam o solo;
Geração de renda local;
Garantia dos serviços ecossistêmicos (carbono, água, biodiversidade).
A Iniciativa Saberes Sociobio
É nesse contexto que surge a Saberes Sociobio, uma articulação que busca transformar as estruturas excludentes da ciência tradicional. A criação do Círculo do Conhecimento exemplifica esse esforço coletivo de integrar saberes e dar protagonismo aos povos da floresta na formulação de políticas e práticas de inovação.
Durante séculos, indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais foram tratados como “fontes de dados” ou “objetos de estudo”. Hoje, cresce a voz dessas populações exigindo espaço real nas decisões sobre os rumos da Amazônia.
Reconhecimento, Protagonismo e Bem-Viver
Não se trata de hierarquizar os saberes. O desafio está em reconhecer a pluralidade, ouvir quem vive no território e garantir o protagonismo dessas comunidades na formulação de alternativas que conciliem desenvolvimento, justiça e preservação ambiental.
Conforme definido no Decreto nº 6.040/2007, as populações tradicionais são grupos culturalmente diferenciados, com formas próprias de organização social, que dependem dos seus territórios e da natureza para sua reprodução física, cultural e espiritual. A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais deve ser fortalecida e respeitada.
Conclusão
A Fama Amazônica acredita que novas visões do mundo só surgirão quando reconhecermos o valor das sabedorias amazônicas em pé de igualdade com os saberes acadêmicos. A transição para um novo modelo de desenvolvimento na região passa por colaboração, inclusão e justiça socioambiental.
A Amazônia não é apenas um “lugar de recursos” — é um território de saberes, histórias, vidas e soluções para o planeta inteiro.
O futuro começa por escutar quem vive e cuida da floresta há milênios.
Por Almir Souza – Redator e Pesquisador
Fonte Redação Fama
Foto AAS