Poluição nos igarapés de Manaus: um retrato da indiferença

É inacreditável atravessar pontes, navegar pelos igarapés e rios que cercam Manaus e se deparar com cenas tão degradantes: sacolas plásticas, lixo doméstico, entulho e todo tipo de resíduo flutuando em nossas águas. Décadas se passaram e o comportamento de grande parte da população segue o mesmo, marcado pela negligência ambiental e pelo descaso com o próprio lar.
Não se trata de falta de informação — os alertas são constantes, campanhas existem, os dados são públicos. Trata-se, sim, de ignorância alimentada pela impunidade. Pessoas que poluem nossas águas deveriam ser multadas e responsabilizadas com rigor, inclusive com penas mais severas, pois a destruição é contínua e coletiva.
E enquanto não houver fiscalização, punição e educação ambiental efetiva, o ciclo de agressão à natureza continuará, com consequências irreversíveis.
A proibição das sacolas plásticas em Manaus: um reflexo do poder da mobilização popular — e dos desafios que ainda enfrentamos
A proibição do uso de sacolas plásticas em Manaus, implantada há algum tempo, foi um marco ambiental importante para a cidade.
A mudança não surgiu de cima para baixo: foi a própria população que pressionou os legisladores, motivada por crescentes preocupações ambientais e pelo desejo de reduzir o impacto do plástico descartável nos rios e florestas da Amazônia.
Os efeitos foram visíveis. A medida não apenas diminuiu o uso de sacolas plásticas, como também gerou mudanças de comportamento entre consumidores e comerciantes. Muitos passaram a utilizar sacolas reutilizáveis, outros aderiram às de papel, mesmo com o custo adicional. Um pequeno gesto, mas com grande impacto — sobretudo quando acompanhado de políticas públicas que incentivam práticas sustentáveis.
No entanto, essa mobilização bem-sucedida contrasta com a apatia de parte dos representantes políticos. Tanto na Câmara Municipal quanto na Assembleia Legislativa do Amazonas, temas ambientais muitas vezes são tratados com descaso.
Questões que deveriam estar no centro do debate, como o lixo urbano, a poluição dos rios e o uso desenfreado de recursos naturais, seguem ignoradas ou minimizadas.
Pior: muitos moradores da própria cidade, que tem potencial para ser referência global em ecologia, ainda não despertaram para a importância dessas lutas.
Vivemos em uma sociedade marcada pelo imediatismo, onde pensar no coletivo e no futuro parece ser exceção. Ainda que existam iniciativas e pessoas comprometidas, a falta de apoio e o ceticismo social frequentemente as sufocam.
Neste cenário, a Revista Fama Amazônica tem cumprido um papel essencial. Há anos, informamos, conscientizamos e cobramos ações concretas. Temos sido coautores de estudos, parceiros de projetos ambientais e vozes ativas em defesa da floresta e das populações da região.
Enquanto ONGs recebem recursos milionários e permanecem ausentes na realidade amazônica, a Fama Amazônica segue firme no compromisso com a verdade e a transformação social.
A experiência com a proibição das sacolas plásticas nos mostra que mudanças são possíveis — quando há mobilização e informação. Existem inúmeros estudos no Brasil e no mundo que comprovam a eficácia de medidas simples, mas consistentes, em favor do meio ambiente.
O problema é que, no Brasil, e especialmente no Amazonas, a consciência ambiental ainda é um luxo para poucos. Muitos preferem ignorar, outros dizem não ter tempo.
O resultado é a perpetuação de um ciclo de negligência que compromete não apenas o futuro, mas o presente.
E o que fazer diante disso? Continuar insistindo. Continuar educando. Continuar cobrando.
A natureza da Amazônia ainda respira, mas clama por socorro. E enquanto?
Por Almir Souza – Revista Fama Amazônica
Fonte Redação Fama
Foto AAS