Fauna & Flora

O Canto do Pássaro e o Meu Despertar por Almir Souza

Quase todos os dias, acordo às quatro ou cinco da manhã. É um ritual silencioso, só meu. Abro a janela do terceiro andar do apartamento onde moro e dou de cara com ela — a rainha das frutas: a manga. Está ali, soberana, entre folhas e galhos, como se me esperasse.

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Logo em seguida, sem falhar, começa o canto do pássaro. Coincidência ou não, gosto de pensar que ele canta para mim. Eu abro a janela, ele solta a melodia. Simples assim. E eu adoro isso.

Outro dia, fui pesquisar esse comportamento tão fiel. Descobri que os pássaros cantam principalmente antes do nascer do sol. É o momento em que os sons viajam mais longe e, por isso, os machos aproveitam para ensinar seus filhotes a cantar, ou, em muitos casos, para atrair uma fêmea — um galanteio, uma serenata natural.

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Embora algumas fêmeas também cantem, isso é raro. No geral, o canto é um dom masculino, uma mensagem vocal que revela força, território, desejo e beleza.

Ainda assim, continuo com a minha fantasia: que ele canta para mim.

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O canto dos pássaros é mais do que som. É comunicação, herança, sobrevivência. Cada espécie tem seu estilo, seu compasso, seu timbre. É como se a floresta tivesse sua própria orquestra, com instrumentos vivos afinados pelo instinto e pela história.

Pesquisas apontam que o canto das aves está associado a ambientes naturais preservados, funcionando como um desvio sensorial daquilo que é ameaça. Em outras palavras: ao ouvir o pássaro, o cérebro humano se acalma.

E não é só isso. Há estudos que mostram que ouvir pássaros pode reduzir a ansiedade, aliviar pensamentos irracionais e nos reconectar com o que somos de mais puro: natureza.

Na Amazônia, o canto do pássaro também tem seu lado mítico. Existe a lenda do Uirapuru, que conta o amor proibido de um jovem índio por uma bela indiazinha. Para permanecer próximo de sua amada, ele pede a Tupã que o transforme em pássaro. E desde então, seu canto mágico ecoa na floresta, tocando o coração de quem ama em silêncio.

Às vezes, sinto que sou esse sujeito bobo que abre a janela todo dia acreditando que o pássaro canta para mim. E quer saber? Que bom ser assim.

No fim das contas, o que importa é que esse canto — seja por amor, instinto ou fantasia — faz bem. E se ele continuar a me visitar toda manhã, seguirei acreditando que sou o sortudo escolhido pela canção da floresta.

Por Almir Souza – Revista Fama Amazônica
Fonte Redação Fama
Foto AAS

Almir Souza

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