Essa tal Natura que de natural não tem nada

A Natura decidiu anunciar ao mundo que não quer mais ser uma empresa sustentável. Isso mesmo. Em sua recém-lançada Visão 2050, a gigante dos cosméticos diz que “sustentabilidade já não basta” e propõe algo supostamente mais ousado: a regeneração.
À primeira vista, parece uma proposta vanguardista. Mas, por trás da retórica polida, esconde-se um recuo institucional perigoso. Ao substituir um conceito consolidado – com critérios claros e mensuráveis – por outro ainda em construção, a empresa escorrega para o terreno da ambiguidade. E mais: sem compromisso técnico, regulatório ou ético firmado.
Regenerar a Amazônia? Não com discursos vazios.
Fama Amazônica observa com desconfiança essa nova roupagem. Afinal, regenerar não é só plantar árvore, compensar carbono ou trocar plástico virgem por biodegradável. Regenerar exige devolver dignidade às comunidades tradicionais, garantir direitos, pagar o justo, investir em educação, conectividade, saúde e soberania para os povos da floresta.
Epa, espere aí, Natura. A Amazônia tem dono, sim. E não é você.
A empresa age como se fosse proprietária moral da floresta, mas esquece que existe gente de verdade vivendo aqui — povos indígenas, ribeirinhos, extrativistas — que guardam saberes ancestrais e que exigem respeito.
Samuel Benchimol, referência maior do pensamento amazônico, dizia que nenhuma atividade na região deve existir sem ser:
✔️ Socialmente justa
✔️ Politicamente correta
✔️ Economicamente viável
✔️ Ambientalmente sustentável
A Natura, ao abandonar essa moldura, se afasta do compromisso real com a Amazônia. E isso nos preocupa.
A Lei de Acesso à Biodiversidade (13.123/2015) é clara: qualquer empresa que explore o patrimônio genético ou o conhecimento tradicional deve compartilhar os benefícios com as populações locais.
Então, perguntamos:
Fama Amazônica exige respostas.
Quais são os percentuais de partilha de lucros da Natura com os povos da floresta?
Onde estão os contratos assinados com as comunidades tradicionais?
Quais valores foram repassados nos últimos cinco anos?
A regeneração começa pela transparência. E ela ainda não apareceu.
Enquanto isso, as mulheres que são o rosto da marca — extrativistas que fornecem matérias-primas valiosas — seguem sem direitos trabalhistas, sem previdência, sem acesso à seguridade social.
Não nos venha com marketing. Venha com compromisso.
A Amazônia não é vitrine. É território de vida. De cultura. De resistência. A floresta tem vozes. E elas exigem respeito, não slogans.
Ora, Sra. Natura, aqui não. Aqui se presta conta. Aqui se respeita o povo amazônico.
por Almir Souza Redator
Fonte Redação Fama
Foto AAS