Mulheres da Amazônia: Desafios e Realidades Revelados por Almir Souza

A edição de 2025 do Relatório Anual Socioeconômico das Mulheres (Raseam) traz uma série de indicadores que ajudam a compreender melhor a situação das mulheres no Brasil, incluindo aquelas que vivem na região Amazônica. Com análises sobre aspectos demográficos, trabalho, educação, saúde, violência, participação política e esportes, o relatório fornece dados essenciais para a formulação de políticas públicas mais eficazes.
Perfil Etário das Mulheres Indígenas e Quilombolas
Na Amazônia, a composição demográfica feminina tem características próprias. O Raseam 2025 revela que o perfil etário das mulheres indígenas é mais rejuvenescido do que o da população feminina total. Enquanto no Brasil a maior parte das mulheres tem entre 25 e 59 anos, na população indígena 28,9% são crianças e adolescentes de até 14 anos. Isso reflete a maior taxa de fecundidade dos povos indígenas, ao mesmo tempo que levanta desafios para garantir direitos fundamentais, como acesso à educação e saúde de qualidade.
Já para as mulheres quilombolas, que passaram a ser pesquisadas de forma mais detalhada pelo Censo 2022, os desafios incluem não apenas o acesso a serviços essenciais, mas também a luta pela posse e manutenção de seus territórios tradicionais, muitas vezes ameaçados por conflitos agrários e pressões do agronegócio.
Autonomia Econômica e Trabalho: O Desafio da Inclusão
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é uma realidade latente no Brasil e se acentua na região Amazônica. As mulheres enfrentam desafios não apenas para encontrar trabalho formal, mas também para garantir condições dignas de trabalho, principalmente no setor rural e na economia informal. O relatório destaca que mulheres negras e indígenas enfrentam ainda mais dificuldades, recebendo salários inferiores e tendo menos acesso a cargos de liderança.
Na Amazônia, muitas mulheres atuam em atividades extrativistas e na agricultura familiar, exercendo um papel fundamental na conservação ambiental e na segurança alimentar. No entanto, esse trabalho é frequentemente invisibilizado e não remunerado de forma justa. Programas de incentivo e apoio financeiro são fundamentais para garantir que essas mulheres tenham maior autonomia econômica e acesso a direitos trabalhistas.
Mulheres Jovens e a Busca por Trabalho
Apesar de o trabalho ser permitido apenas na condição de menor aprendiz para adolescentes entre 14 e 17 anos, essa faixa etária é a que mais busca uma oportunidade de emprego. Segundo o Raseam 2025, 34,0% das jovens mulheres entre 14 e 17 anos estavam à procura de trabalho no segundo trimestre de 2024, um percentual superior ao dos homens da mesma idade (24,1%). Esse dado reflete a necessidade financeira das famílias, que frequentemente levam adolescentes a ingressar no mercado de trabalho antes da idade adequada, comprometendo sua educação e desenvolvimento.
Mulheres São Maioria entre os Jovens que Não Estudam
Entre os jovens de 15 a 29 anos que não estudavam, não estavam ocupados e não tomaram providência para conseguir trabalho em 2023 (7,3 milhões), 69,5% eram mulheres, sendo 48,5% mulheres pretas ou pardas. Desses jovens, 31,9% afirmaram que gostariam de trabalhar, mas enfrentavam barreiras como falta de oportunidades na localidade, dificuldade de encontrar um emprego adequado ou a necessidade de cuidar dos afazeres domésticos e de familiares, motivo alegado quase exclusivamente por mulheres.
Na Amazônia, essa realidade é ainda mais marcante, pois muitas jovens precisam assumir responsabilidades familiares desde cedo, dificultando sua permanência na escola e reduzindo suas oportunidades de crescimento profissional.
Mulheres Chefas de Família e a Estrutura Doméstica na Amazônia
Um dado relevante do Raseam 2025 é que as mulheres passaram a ser maioria entre as pessoas responsáveis pelos domícilios no Brasil desde 2022. Na região Norte, essa tendência é ainda mais significativa, já que muitas dessas mulheres vivem em estruturas familiares ampliadas, nas quais avós, mães e filhas compartilham o mesmo lar.
Esse fenômeno pode estar relacionado às dificuldades de acesso ao mercado de trabalho para as mulheres e ao papel histórico que desempenham no sustento emocional e financeiro da família. O fortalecimento de redes de apoio, como creches, programas sociais e políticas de habitação, é essencial para garantir melhores condições de vida para essas mulheres e suas famílias.
Conclusão: O Futuro das Mulheres Amazônicas
Os dados apresentados pelo Raseam 2025 evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas para as especificidades das mulheres da Amazônia. A desigualdade de gênero não é homogênea no Brasil, e as condições de vida na região Norte impõem desafios únicos, que exigem soluções adaptadas à realidade local.
Promover a autonomia econômica, garantir acesso à educação e saúde, fortalecer redes de apoio e combater todas as formas de violência são passos fundamentais para construir um futuro mais justo para as mulheres amazônicas.
O Raseam 2025 é mais do que um conjunto de estatísticas; é um alerta para a urgência de transformações estruturais que beneficiem essas mulheres e toda a sociedade.
por Almir Souza Redator Hacker
Fonte Redação Fama
Foto AAS