COP-30 em Belém: Entre Esperanças, Contradições e Silêncios

A Revista Fama Amazônica observa, desconfiada, os rumos da Conferência do Clima de 2025, a famosa COP-30, que será sediada pela cidade-irmã Belém do Pará. A promessa é grandiosa: o Brasil como protagonista na luta climática global. Mas por trás das manchetes e dos discursos oficiais, paira um clima de incerteza. Na prática, o Pará – e o Brasil – ainda patinam em desacordos internos, desorganização e falta de informações claras.
A Revista Fama Amazônica tenta compreender esse cenário para poder dialogar com seus leitores e a juventude amazônica, mas a sensação é de que nem mesmo os organizadores locais sabem exatamente o que dizer. Belém, que em breve terá os olhos do mundo voltados para si, ainda não encontrou um denominador comum. E isso preocupa.
Miragem ou Transição Climática Real?
A realização da COP-30 em solo brasileiro foi celebrada como um passo decisivo para que o Brasil assuma um papel de liderança ambiental. No entanto, após a Conferência de Dubai (COP-28), ficou evidente que a chamada “transição energética” ainda é um sonho distante. Fala-se muito em abandonar os combustíveis fósseis, mas pouco se sabe sobre como, quando e, principalmente, quem vai pagar essa conta.
Um ponto crítico que continua sendo empurrado para conferências futuras é o financiamento climático. Estima-se que, para alcançar as metas globais, o mundo precisará investir cerca de US$ 4,3 trilhões anuais até 2030. No entanto, desde 2009, nem mesmo os US$ 100 bilhões prometidos anualmente pelos países ricos foram plenamente entregues. Faltam compromisso e responsabilidade global.
Brasil: Liderança ou Contradição?
O Brasil tem se colocado como defensor de uma “transição justa, ordenada e equitativa”, sugerindo que os países ricos devem iniciar essa mudança. No entanto, enquanto reassume compromissos como o desmatamento zero e aposta em fontes renováveis, o país surpreendeu o mundo ao anunciar, durante a COP-28, sua entrada no grupo Opep+, formado por produtores de petróleo. Como compreender esse duplo discurso?
Poucas horas após o encerramento da conferência em Dubai, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizou o leilão de novos blocos petrolíferos. Para quem o Brasil continuará produzindo esse petróleo? Essa decisão gera dúvidas sobre a real intenção do país em liderar a transição energética ou se deseja apenas manter sua posição como fornecedor de energia fóssil para o mercado internacional.
Amazônia: Cenário de Contrastes
Sediar a COP na Amazônia é simbólico. A região é responsável por 75% das emissões brasileiras, principalmente devido ao desmatamento e à agropecuária, mas também é uma das áreas com maior vulnerabilidade social e energética do país. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas ainda vivam sem acesso à energia elétrica na Amazônia Legal.
Essa disparidade entre a riqueza natural e a pobreza estrutural precisa ser enfrentada com urgência. A transição energética não pode ignorar as populações que vivem nos territórios onde os recursos naturais estão sendo explorados. Precisamos de uma mudança que comece de baixo para cima, valorizando o saber local, garantindo acesso à energia limpa e infraestrutura básica.
Belém 2025: A Hora da Verdade
A COP-30 será o momento em que os países apresentarão suas novas metas de redução de emissões, as chamadas NDCs. É uma oportunidade crucial para definir ações concretas e cobrar responsabilidades. Mas para que a conferência tenha legitimidade, o Brasil precisa resolver seus próprios paradoxos e oferecer uma agenda clara, transparente e participativa.
A Fama Amazônica acredita no potencial do nosso povo, das nossas florestas e da ciência brasileira. Mas não podemos fechar os olhos às contradições, aos silêncios e à ausência de planejamento.
O mundo estará de olho em Belém – e a Amazônia exige mais do que discursos. Exige justiça climática, equidade e ação real.
por Almir Souza Redator Revista Fama Amazônica,
Fonte Redação Fama
Foto AAS