Fauna & Flora

A Amazônia não pertence às pessoas – nós é que pertencemos a ela

Nós pertencemos à Amazônia – Por Almir Souza – Pesquisador Redator e critico de artes da Revista Fama Amazônica

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“A terra não nos pertence. Somos nós que pertencemos a ela.” Ao longo dos anos, a Revista Fama Amazônica tem percorrido as veredas da floresta, os rios sagrados e as aldeias esquecidas, ouvindo vozes que não costumam ser ouvidas, mas que carregam consigo a verdadeira sabedoria da vida. Como pesquisador e redator desta revista, carrego comigo o compromisso de ecoar essas vozes, especialmente as dos povos originários da Amazônia.

Os indígenas, que há milênios habitam e cuidam desta terra, não veem a floresta como um recurso, mas como um ser vivo. Para eles, a terra não é propriedade — é parente, é mãe. Essa visão ancestral está em completo contraste com o modelo de mundo que prioriza o lucro e o consumo, em detrimento do equilíbrio e da vida.

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Enquanto a sociedade moderna corre atrás de progresso, os povos indígenas nos alertam: o calor extremo, as enchentes, as secas e até a pandemia são respostas da natureza ao desrespeito humano. E perguntam, com sabedoria:
“Quando o homem destrói a natureza, chama de progresso. Mas quando a natureza destrói o que ele construiu, chama de desastre?”

Precisamos urgentemente restaurar o diálogo com a floresta. Nossos ancestrais conversavam com as árvores, sabiam ler o vento, escutavam os sinais dos rios. Hoje, tudo parece ruído. Vivemos uma desconexão. Adoecemos o mundo porque também estamos adoecidos. Corremos atrás de riqueza, esquecendo que o verdadeiro sentido da vida não é possuir, mas pertencer, cuidar e amar.

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Meu avô costumava prever a chuva com base nas folhas, no comportamento dos animais, no silêncio da mata. Fazia armadilhas com palha para pescar em áreas que logo seriam alagadas. Hoje, o tempo mudou. Já não chove no tempo certo. Os rios secam, os peixes somem. A floresta está em alerta, mas poucos escutam. A temperatura da vida está subindo, e com ela, o risco de perdermos tudo.

“A luta pela mãe terra é a mãe de todas as lutas.”

É da terra que vem o alimento, a cura, a existência. No entanto, quando os colonizadores chegaram, não havia esgoto a céu aberto, nem animais em extinção, nem queimadas. A devastação começou com a imposição de um modelo de mundo que se recusava a entender a floresta — e que, até hoje, se recusa a ouvir seus guardiões.

A Amazônia está sendo atacada e está reagindo. O aquecimento global não é uma abstração — é o resultado direto de escolhas humanas. E se continuarmos a tratar a natureza como algo separado de nós, perderemos não apenas a floresta, mas o futuro.

Nossos saberes indígenas não estão em manuais, mas na experiência, passada de geração em geração. Eles precisam ser escutados — não como folclore, mas como ciência viva. As grandes conferências sobre o clima precisam incluir, de verdade, as vozes da floresta.

“Todo o mal que fazemos à terra, fazemos a nós mesmos.”

A tentativa de impor o Marco Temporal, que nega os direitos indígenas às terras ocupadas antes de 1988, é um insulto histórico. Os povos indígenas estão aqui muito antes de 1500. Essa tese ignora a ancestralidade e fere a Constituição, colocando o interesse econômico acima da vida.

Ao visitar escolas não indígenas, percebo o quanto precisamos educar nossas crianças sobre o planeta. Muitas acreditam que a água nasce na torneira. Não sabem que a nascente precisa da floresta. Os territórios indígenas são protegidos porque os indígenas cuidam da terra como se fosse parte de si mesmos. E é isso que nos sustenta.

Minha preocupação não é só com o povo indígena — é com toda a humanidade.

Queremos que as crianças de hoje e de amanhã vejam com seus próprios olhos uma cachoeira viva, um rio limpo, uma árvore frondosa, um animal livre. E que não aprendam isso apenas nos livros ou em vídeos antigos, mas no contato direto com a natureza, sentindo na pele o sopro da vida.

A Amazônia é nossa casa comum. É o coração verde do planeta. E não sobrevive sem respeito, sem escuta, sem pertencimento.

Pertencemos à Amazônia. E é hora de nos reconectar com ela, antes que seja tarde.

Revista Fama Amazônica
Informação, consciência e floresta viva.

por Almir Souza Redator
Fonte Redação Fama
Foto AAS

Almir Souza

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