A Pupunha

O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de palmito no mundo. No entanto, sua produção ainda é baseada na exploração de espécies nativas, como a juçara, nativa da Mata Atlântica, e o açaí, nativo da Floresta Amazônica. A extração dessas espécies tem contribuído para sua extinção, em especial da juçara, que morre após a colheita do palmito.
A pupunha, nativa da região amazônica (onde é cultivada para produção de frutos), tem se mostrado uma alternativa para cultivo de palmito com sustentabilidade econômica e ambiental nas regiões leste do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, estados onde um amplo projeto de pesquisa e desenvolvimento adaptou o cultivo dessa espécie para a agricultura familiar.
Além de perfilhar (emitir novos brotos) por pelo mais 10 anos, a pupunha tem a vantagem de ser precoce, pois começa a produzir palmito 18 meses após o. A rusticidade, vigor e produtividade da planta também são itens apreciados pelos produtores rurais. Outro diferencial é que o palmito não escurece rapidamente após o corte, o que constitui uma vantagem em relação às demais palmeiras e possibilita a venda in natura, com maior valor agregado.
O interesse por essa cultura tem aumentado a cada ano. Em 2004, na região litoral do Paraná, havia um milhão de mudas de pupunheira plantadas em pequenas propriedades rurais, em 200 hectares. Em 2007, esse número aumentou para aproximadamente 2,2 milhões de mudas plantadas, o equivalente a uma área cultivada de 440 hectares, o que representa um aumento de mais de 100%. Hoje são 1.600 hectares. Pesquisas indicam que o cultivo da pupunha pode se expandir para diversas regiões brasileiras, em especial regiões quentes e sem déficit hídrico.
A adaptação de uma cultura em outra região exige um amplo trabalho de pesquisa e desenvolvimento. Desde o ano 2000, diversas instituições têm trabalhado para que o sistema de produção da pupunha seja viável, com pesquisas nas mais diversas frentes: estudo de mercado, zoneamento, manejo, melhoramento genético e conservação de germoplasma, processamento. Essas ações foram desenvolvidas com produtores rurais, agroindustriais e com a assistência técnica rural.
Além do sistema de produção, o projeto entendeu que nos últimos 50 anos o consumo de palmito no Brasil esteve sempre associado ao produto envasado, cujo processamento na maioria das vezes é inacessível ao produtor, que tem como única opção, atualmente, repassar sua produção para a indústria de enlatados a preços mínimos. Por sua vez, o alto preço do produto envasado reduz o consumo desse produto.
Em busca de novas maneiras de comercialização e utilização do palmito, o projeto tem estudado formas de consumo, tais como o uso de filmes comestíveis para comercialização do palmito in natura; a produção de espaguete de palmito e a utilização dos resíduos atualmente descartados pela indústria.
O Brasil, além de ser o maior produtor e consumidor de palmito, é também, hoje, o maior exportador mundial do produto, responsável por aproximadamente 95% de todo o palmito consumido no mundo, sendo 90% de origem extrativista, proveniente do açaí (da Amazônia) e da juçara (da Mata Atlântica). O setor brasileiro de palmito tem um faturamento anual estimado em US$ 350 milhões, com a geração de 8 mil empregos diretos e 25 mil empregos indiretos.
Estima-se que o mercado mundial gire em torno de US$ 500 milhões, com grande potencial de crescimento. No entanto, a falta de escala e o beneficiamento precário do produto refletem em baixa qualidade e alto custo do produto no mercado. Isso faz com que os principais importadores estejam reduzindo as compras do Brasil, que perde mercado para a Costa Rica, cuja produção de palmito de pupunha é de origem cultivada.
Todos os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento que tratam da produção de palmito de pupunha no Sul do Brasil contam com a participação de parceiros que atuam em rede, cada um dentro de sua linha de trabalho: centros de pesquisa da Embrapa – Florestas, Agroindústria de Alimentos, Soja e Milho e Sorgo; Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade Estadual de Maringá; Universidade Estadual de Ponta Grossa; Universidade Federal do Paraná; Faculdades Integradas Espírita; Pontifícia Universidade Católica do Paraná; Universidade Federal de Minas Gerais; Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater/PR; Instituto Agronômico do Paraná (Iapar); Fundação Municipal 25 de Julho (SC); Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina; Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta Vale do Ribeira; Coordenadoria de Assistência Técnica Integral de São Paulo (Cati).
Também participam empresas privadas: Voight Alimentos (Joinville/SC); Indústria e Comércio de Conservas Alimentícias Vale do Ribeira (Registro/SP); e Viveiros Flora do Vale (Eldorado/SP); além da Associação dos Produtores de Pupunha do Vale do Ribeira (Apuvale) e Associação Brasileira das Indústrias do Palmito Pupunha.
Fonte: embrapaFlorestas